Queridíssimos: que Jesus me guarde as minhas filhas e os meus filhos!
Terminou o ano mariano na Obra, no qual quisemos agradecer a Deus, pela intercessão da Santíssima Virgem, os vinte e cinco anos do Opus Dei como Prelatura pessoal. Espero que, pela bondade do Senhor, todos tenhamos progredido no afecto e devoção à nossa Mãe, que leva necessariamente a tratar o seu Filho Jesus de um modo mais íntimo e pessoal, mais apaixonado.
Preparamo-nos agora para a solenidade da Imaculada Conceição: uma nova oportunidade para consolidar ainda mais, no fundo da nossa alma, a piedade mariana que é característica dos católicos e parte muito importante da herança espiritual do nosso Fundador. Sabemos como S. Josemaria não se punha nunca como exemplo de nada: o único Modelo é Jesus Cristo, repetia. E, contudo, não tinha inconveniente em afirmar: se nalguma coisa quero que me imiteis é no amor que tenho à Virgem Maria. Tão grande era o seu carinho filial pela nossa Mãe! Peçamos por sua intercessão que, nestes dias de preparação para a grande festa de 8 de Dezembro, se opere em cada um de nós um crescimento contínuo na piedade mariana e na vibração apostólica. Animemos também outras pessoas a entrarem pelos caminhos da vida interior ou a progredirem nessa direcção, através de um diálogo mais confiado com Nossa Senhora.
Ontem começou o Advento, um tempo litúrgico especialmente adequado a fomentar a esperança teologal. Esta virtude leva-nos a aspirar, com todas as nossas forças, à felicidade eterna que o Senhor prometeu aos que cumprem a Sua vontade. Como o Santo Padre escreveu há justamente um ano, nós precisamos de ter aquelas esperanças – maiores ou menores – que dia a dia nos mantenham a caminho. Mas sem a grande esperança, que há-de superar tudo o resto, aquelas não chegam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e que nos pode propor e dar aquilo que nós sozinhos não podemos alcançar [1].
Comecemos assim este tempo litúrgico reafirmando os nossos desejos de chegar ao Céu. Não ponhamos o nosso fim nas coisas de cá de baixo: que todas as realizações que possamos conseguir nos ajudem a percorrer o caminho que conduz ao Céu. Um só é o fim último da vida: a posse e o júbilo de Deus por toda a eternidade. Aí se encontra a meta definitiva a que havemos de aspirar dia a dia. E, para isso, havemos de pôr tudo – absolutamente tudo, sem ficarmos com nada – ao serviço do Reino de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica resume o sentido destas semanas com as palavras seguintes: «Ao celebrar cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja actualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da Sua segunda vinda» [2]. Tempo de preparação para o Natal e para fomentar a esperança da vinda do Nosso Redentor, que terá lugar no fim dos tempos, para julgar os vivos e os mortos e instaurar plenamente o Seu reino, de modo a que Deus seja tudo em todas as coisas [3].
A primeira fase do Advento – até 16 de Dezembro – centra-se na consideração da última vinda do Senhor. A Liturgia da Missa, sobretudo aos Domingos, apresenta-nos passagens do Antigo e do Novo Testamento destinadas a preparar-nos para esse encontro. A partir de 17 de Dezembro, muda o conteúdo das leituras, que nos dispõem de modo imediato para a vinda espiritual de Jesus Cristo no Natal: dois aspectos intimamente unidos, que podem muito bem guiar a nossa oração durante o mês de Dezembro. Como é a nossa fome de estar com Deus já aqui na Terra? Procuramos o Seu rosto, quando isso acontece? Evitamos que haja em nós qualquer perda de paz, com a certeza de que Ele veio e virá para todos?
A consideração dos novíssimos – as coisas últimas, que hão‑de acontecer no final dos tempos e, antes, para cada um, no dia da sua morte – não se há-de tornar uma fonte de temor ou de inquietação. Nada mais longe da intenção da Igreja ao apresentar-nos estas verdades. Elas constituem antes um chamamento ao sentido da responsabilidade pessoal, para que nos decidamos a trabalhar com maior constância na obra da santificação pessoal e na tarefa apostólica.
Há poucas semanas, referindo a doutrina de S. Paulo sobre os Novíssimos, Bento XVI convidava os cristãos a meditar em três grandes certezas da nossa fé relacionadas com este tema. A primeira é a certeza de que Jesus ressuscitou, está com o Pai e, por isso, está connosco para sempre. E ninguém é mais forte que Cristo (…). Por isso estamos seguros e não temos medo [4].
Como havíamos de ter medo do nosso Pai Deus, que mostrou de tantas e evidentes formas o Seu amor por nós, até ao ponto de enviar o Seu Filho ao mundo para o salvar? A fé em Cristo ressuscitado é o melhor antídoto contra todos os medos. Assim aconteceu no início da pregação evangélica, num mundo dominado pelo medo fatalista do destino, e assim se deve renovar aquela fé também hoje, num mundo em que tantas pessoas andam cheias de apreensão pelo futuro, ou vivem de forma irresponsável, como se tudo acabasse aqui em baixo. O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? (Sl 26, 1), perguntava-se S. Josemaria com palavras do Salmo.E respondia: A ninguém. Tratando assim o nosso Pai do Céu, não admitamos medo de ninguém nem de nada [5]. Por isso acrescentava: um filho de Deus não tem medo da vida nem medo da morte, porque o fundamento da sua vida espiritual é o sentido da filiação divina: Deus é meu Pai, pensa, e é o Autor de todo o bem, é toda a Bondade [6].
Em segundo lugar– prossegue o Papa, aprofundando sobre as raízes do optimismo cristão –, a certeza de que Cristo está comigo, de que em Cristo o mundo futuro já começou, também dá certeza da esperança. O futuro não é uma escuridão em que ninguém se orienta. Não é assim [7]. Para quem acredita em Cristo e vive de Cristo, o futuro emerge sempre luminoso, um caminho seguro, porque Jesus Cristo ressuscitado, o Bom Pastor, nos abriu a senda da vida eterna e caminha connosco, nos protege e nos anima com o carinho de uma mãe e de um pai. Cada um pode fazer suas, com plena verdade, as palavras inspiradas: o Senhor é meu pastor, nada me falta. Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes. Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu Nome. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me sossegam[8].
A terceira certeza que sustenta os cristãos é esta:o Juiz que volta – Juiz e Salvador ao mesmo tempo – confiou-nos a tarefa de viver neste mundo conforme o Seu modo de viver. Entregou-nos os Seus talentos. Por isso, a nossa atitude é : responsabilidade para com o mundo, para com os irmãos, diante de Cristo e, ao mesmo tempo, também a certeza da Sua misericórdia. As duas coisas são importantes [9].
Este sentido de responsabilidade responde à advertência do Senhor: negotiamini dum venio [10], negociai até Eu voltar. Palavras que S. Josemaria meditou frequentemente, com a certeza de que Deus nos acompanha sempre, e com a responsabilidade de que nos confiou a Sua herança. É preciso aproveitar bem o tempo para que, com a graça divina, mereçamos chegar um dia à bem-aventurança eterna. Saboreemos aquelas outras palavras do nosso Padre: Que pena viver tendo como ocupação matar o tempo, que é um tesouro de Deus! Não há desculpas para justificar essa actuação (…). Que tristeza não tirar partido, autêntico rendimento de todas as faculdades, poucas ou muitas, que Deus concede ao homem para que se dedique a servir as almas e a sociedade!
Quando o cristão mata o seu tempo na Terra, põe-se em perigo de matar o seu Céu, se, por egoísmo, se acanha, se esconde, se despreocupa. Quem ama a Deus, não entrega só o que tem, o que é, ao serviço de Cristo: dá-se ele próprio [11].
À luz destes convites, podemos perguntar-nos: sinto a responsabilidade de fazer render os talentos – qualidades pessoais, tarefas que me ocupam, oportunidades de fazer o bem que me aparecem em cada dia – para estabelecer o Reino de Cristo na minha alma e no ambiente em que vivo? Como ajudo os outros a comportar-se deste modo, com o meu exemplo e com a minha palavra? Faço tudo o que está ao meu alcance para que se respeite a lei de Deus na legislação civil e na organização da sociedade?
A segunda fase do Advento, como vos recordava no início, tende a preparar-nos de modo imediato para o Natal. Nessa altura, seguindo um conselho do nosso Padre, podemos acompanhar Nossa Senhora e S. José no caminho até Belém. Nos tempos de oração pessoal e ao longo do dia, situemo-nos muito perto deles, prestando-lhes com o desejo algum serviço, reparando pelos que naquela altura, e também agora, não souberam acolher o Filho de Deus quando veio à Terra. Não é pura imaginação, mas um modo de exercitar de forma concreta a nossa fé no mistério da Encarnação.
O Natal aparece-nos como uma escola extraordinária. Aproveitemos as lições que Jesus nos dá. Como o nosso Padre lembrava, detenhamo-nos na naturalidade do Seu nascimento. Começa por estar nove meses no seio de Sua Mãe, como qualquer outro homem, com extrema naturalidade. Sabia o Senhor de sobra que a humanidade padecia de uma urgente necessidade d’Ele. Tinha, portanto, fome de vir à Terra para salvar todas as almas, mas não precipita o tempo: vem na Sua hora, como chegam ao mundo os outros homens [12].
Também podemos considerar a Sua simplicidade. O Senhor vem sem aparato, desconhecido de todos. Na Terra, só Maria e José participam na divina aventura. Depois, os pastores, avisados pelos anjos. E mais tarde, os sábios do Oriente. Assim acontece o facto transcendente que une o Céu à Terra, Deus ao homem! [13]
Imitando o Mestre com determinação, podemos unir o divino e o humano na nossa existência comum. Basta que nos esforcemos por meter Deus no centro da nossa actividade, com a vontade de cumprir os nossos deveres para Lhe dar glória, e rectificando aqueles motivos que o possam dificultar. Nestes dias anteriores ao Natal, não esqueçamos que Maria e José continuam a bater à porta das nossas almas, como então às portas das casas de Belém. Não me afasto da mais rigorosa – assegurava S. Josemaria – verdade se vos digo que Jesus continua agora a buscar pousada no nosso coração. Temos de Lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos de Lhe pedir a graça de nunca mais Lhe fecharmos a porta das nossas almas [14].
Nas próximas semanas, a Liturgia, ao fazer ressoar a voz de Jesus, recomenda-nos vigilância: vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor [15]. É o que o Papa recorda a todos os cristãos: Jesus, que no Natal veio até nós e voltará glorioso no fim dos tempos, não se cansa de nos visitar continuamente nos acontecimentos de cada dia. Pede-nos que estejamos atentos para perceber a Sua presença, o Seu advento, e aconselha-nos que O esperemos vigiando (…). Preparemo-nos para receber com fé o mistério do nascimento do Redentor, que encheu de alegria o universo [16].
Na semana passada, tive oportunidade de passar uns dias em Pamplona, para acompanhar as vossas irmãs e os vossos irmãos depois das circunstâncias extraordinárias por que passaram. Pude mais uma vez testemunhar o espírito que o nosso Padre infundiu em todas e em todos, também nos que trabalham na Universidade de Navarra. Passadas poucas semanas do atentado sofrido, a atitude profundamente cristã das mulheres e dos homens que ali trabalham ajudou-me a dar graças a Deus: porque se toca com as mãos que o Opus Dei é uma sementeira de paz e de alegria.
Renovo a minha petição de orações pelas minhas intenções; em primeiro lugar pelo Papa e pelos seus colaboradores no governo da Igreja, pelos Bispos e sacerdotes, por todos os membros do Povo de Deus. E para que o trabalho apostólico pessoal – de cada uma, de cada um – não conheça tréguas. Com Cristo, ajudados pela Virgem Maria e S. José, façamo‑nos tudo para todos.
Neste mês há muitos aniversários da Obra. Não me posso deter a comentá-los, porque seria interminável. Peço-vos, isso sim, que amemos mais esta história das misericórdias de Deus, porque o Senhor as quis para cada uma, para cada um. Desejo que não fiquem em simples recordações, mas que as vivamos.
Com todo o afecto, abençoa-vos
O vosso Padre
+ Javier
Terminou o ano mariano na Obra, no qual quisemos agradecer a Deus, pela intercessão da Santíssima Virgem, os vinte e cinco anos do Opus Dei como Prelatura pessoal. Espero que, pela bondade do Senhor, todos tenhamos progredido no afecto e devoção à nossa Mãe, que leva necessariamente a tratar o seu Filho Jesus de um modo mais íntimo e pessoal, mais apaixonado.
Preparamo-nos agora para a solenidade da Imaculada Conceição: uma nova oportunidade para consolidar ainda mais, no fundo da nossa alma, a piedade mariana que é característica dos católicos e parte muito importante da herança espiritual do nosso Fundador. Sabemos como S. Josemaria não se punha nunca como exemplo de nada: o único Modelo é Jesus Cristo, repetia. E, contudo, não tinha inconveniente em afirmar: se nalguma coisa quero que me imiteis é no amor que tenho à Virgem Maria. Tão grande era o seu carinho filial pela nossa Mãe! Peçamos por sua intercessão que, nestes dias de preparação para a grande festa de 8 de Dezembro, se opere em cada um de nós um crescimento contínuo na piedade mariana e na vibração apostólica. Animemos também outras pessoas a entrarem pelos caminhos da vida interior ou a progredirem nessa direcção, através de um diálogo mais confiado com Nossa Senhora.
Ontem começou o Advento, um tempo litúrgico especialmente adequado a fomentar a esperança teologal. Esta virtude leva-nos a aspirar, com todas as nossas forças, à felicidade eterna que o Senhor prometeu aos que cumprem a Sua vontade. Como o Santo Padre escreveu há justamente um ano, nós precisamos de ter aquelas esperanças – maiores ou menores – que dia a dia nos mantenham a caminho. Mas sem a grande esperança, que há-de superar tudo o resto, aquelas não chegam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e que nos pode propor e dar aquilo que nós sozinhos não podemos alcançar [1].
Comecemos assim este tempo litúrgico reafirmando os nossos desejos de chegar ao Céu. Não ponhamos o nosso fim nas coisas de cá de baixo: que todas as realizações que possamos conseguir nos ajudem a percorrer o caminho que conduz ao Céu. Um só é o fim último da vida: a posse e o júbilo de Deus por toda a eternidade. Aí se encontra a meta definitiva a que havemos de aspirar dia a dia. E, para isso, havemos de pôr tudo – absolutamente tudo, sem ficarmos com nada – ao serviço do Reino de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica resume o sentido destas semanas com as palavras seguintes: «Ao celebrar cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja actualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da Sua segunda vinda» [2]. Tempo de preparação para o Natal e para fomentar a esperança da vinda do Nosso Redentor, que terá lugar no fim dos tempos, para julgar os vivos e os mortos e instaurar plenamente o Seu reino, de modo a que Deus seja tudo em todas as coisas [3].
A primeira fase do Advento – até 16 de Dezembro – centra-se na consideração da última vinda do Senhor. A Liturgia da Missa, sobretudo aos Domingos, apresenta-nos passagens do Antigo e do Novo Testamento destinadas a preparar-nos para esse encontro. A partir de 17 de Dezembro, muda o conteúdo das leituras, que nos dispõem de modo imediato para a vinda espiritual de Jesus Cristo no Natal: dois aspectos intimamente unidos, que podem muito bem guiar a nossa oração durante o mês de Dezembro. Como é a nossa fome de estar com Deus já aqui na Terra? Procuramos o Seu rosto, quando isso acontece? Evitamos que haja em nós qualquer perda de paz, com a certeza de que Ele veio e virá para todos?
A consideração dos novíssimos – as coisas últimas, que hão‑de acontecer no final dos tempos e, antes, para cada um, no dia da sua morte – não se há-de tornar uma fonte de temor ou de inquietação. Nada mais longe da intenção da Igreja ao apresentar-nos estas verdades. Elas constituem antes um chamamento ao sentido da responsabilidade pessoal, para que nos decidamos a trabalhar com maior constância na obra da santificação pessoal e na tarefa apostólica.
Há poucas semanas, referindo a doutrina de S. Paulo sobre os Novíssimos, Bento XVI convidava os cristãos a meditar em três grandes certezas da nossa fé relacionadas com este tema. A primeira é a certeza de que Jesus ressuscitou, está com o Pai e, por isso, está connosco para sempre. E ninguém é mais forte que Cristo (…). Por isso estamos seguros e não temos medo [4].
Como havíamos de ter medo do nosso Pai Deus, que mostrou de tantas e evidentes formas o Seu amor por nós, até ao ponto de enviar o Seu Filho ao mundo para o salvar? A fé em Cristo ressuscitado é o melhor antídoto contra todos os medos. Assim aconteceu no início da pregação evangélica, num mundo dominado pelo medo fatalista do destino, e assim se deve renovar aquela fé também hoje, num mundo em que tantas pessoas andam cheias de apreensão pelo futuro, ou vivem de forma irresponsável, como se tudo acabasse aqui em baixo. O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? (Sl 26, 1), perguntava-se S. Josemaria com palavras do Salmo.E respondia: A ninguém. Tratando assim o nosso Pai do Céu, não admitamos medo de ninguém nem de nada [5]. Por isso acrescentava: um filho de Deus não tem medo da vida nem medo da morte, porque o fundamento da sua vida espiritual é o sentido da filiação divina: Deus é meu Pai, pensa, e é o Autor de todo o bem, é toda a Bondade [6].
Em segundo lugar– prossegue o Papa, aprofundando sobre as raízes do optimismo cristão –, a certeza de que Cristo está comigo, de que em Cristo o mundo futuro já começou, também dá certeza da esperança. O futuro não é uma escuridão em que ninguém se orienta. Não é assim [7]. Para quem acredita em Cristo e vive de Cristo, o futuro emerge sempre luminoso, um caminho seguro, porque Jesus Cristo ressuscitado, o Bom Pastor, nos abriu a senda da vida eterna e caminha connosco, nos protege e nos anima com o carinho de uma mãe e de um pai. Cada um pode fazer suas, com plena verdade, as palavras inspiradas: o Senhor é meu pastor, nada me falta. Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes. Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu Nome. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me sossegam[8].
A terceira certeza que sustenta os cristãos é esta:o Juiz que volta – Juiz e Salvador ao mesmo tempo – confiou-nos a tarefa de viver neste mundo conforme o Seu modo de viver. Entregou-nos os Seus talentos. Por isso, a nossa atitude é : responsabilidade para com o mundo, para com os irmãos, diante de Cristo e, ao mesmo tempo, também a certeza da Sua misericórdia. As duas coisas são importantes [9].
Este sentido de responsabilidade responde à advertência do Senhor: negotiamini dum venio [10], negociai até Eu voltar. Palavras que S. Josemaria meditou frequentemente, com a certeza de que Deus nos acompanha sempre, e com a responsabilidade de que nos confiou a Sua herança. É preciso aproveitar bem o tempo para que, com a graça divina, mereçamos chegar um dia à bem-aventurança eterna. Saboreemos aquelas outras palavras do nosso Padre: Que pena viver tendo como ocupação matar o tempo, que é um tesouro de Deus! Não há desculpas para justificar essa actuação (…). Que tristeza não tirar partido, autêntico rendimento de todas as faculdades, poucas ou muitas, que Deus concede ao homem para que se dedique a servir as almas e a sociedade!
Quando o cristão mata o seu tempo na Terra, põe-se em perigo de matar o seu Céu, se, por egoísmo, se acanha, se esconde, se despreocupa. Quem ama a Deus, não entrega só o que tem, o que é, ao serviço de Cristo: dá-se ele próprio [11].
À luz destes convites, podemos perguntar-nos: sinto a responsabilidade de fazer render os talentos – qualidades pessoais, tarefas que me ocupam, oportunidades de fazer o bem que me aparecem em cada dia – para estabelecer o Reino de Cristo na minha alma e no ambiente em que vivo? Como ajudo os outros a comportar-se deste modo, com o meu exemplo e com a minha palavra? Faço tudo o que está ao meu alcance para que se respeite a lei de Deus na legislação civil e na organização da sociedade?
A segunda fase do Advento, como vos recordava no início, tende a preparar-nos de modo imediato para o Natal. Nessa altura, seguindo um conselho do nosso Padre, podemos acompanhar Nossa Senhora e S. José no caminho até Belém. Nos tempos de oração pessoal e ao longo do dia, situemo-nos muito perto deles, prestando-lhes com o desejo algum serviço, reparando pelos que naquela altura, e também agora, não souberam acolher o Filho de Deus quando veio à Terra. Não é pura imaginação, mas um modo de exercitar de forma concreta a nossa fé no mistério da Encarnação.
O Natal aparece-nos como uma escola extraordinária. Aproveitemos as lições que Jesus nos dá. Como o nosso Padre lembrava, detenhamo-nos na naturalidade do Seu nascimento. Começa por estar nove meses no seio de Sua Mãe, como qualquer outro homem, com extrema naturalidade. Sabia o Senhor de sobra que a humanidade padecia de uma urgente necessidade d’Ele. Tinha, portanto, fome de vir à Terra para salvar todas as almas, mas não precipita o tempo: vem na Sua hora, como chegam ao mundo os outros homens [12].
Também podemos considerar a Sua simplicidade. O Senhor vem sem aparato, desconhecido de todos. Na Terra, só Maria e José participam na divina aventura. Depois, os pastores, avisados pelos anjos. E mais tarde, os sábios do Oriente. Assim acontece o facto transcendente que une o Céu à Terra, Deus ao homem! [13]
Imitando o Mestre com determinação, podemos unir o divino e o humano na nossa existência comum. Basta que nos esforcemos por meter Deus no centro da nossa actividade, com a vontade de cumprir os nossos deveres para Lhe dar glória, e rectificando aqueles motivos que o possam dificultar. Nestes dias anteriores ao Natal, não esqueçamos que Maria e José continuam a bater à porta das nossas almas, como então às portas das casas de Belém. Não me afasto da mais rigorosa – assegurava S. Josemaria – verdade se vos digo que Jesus continua agora a buscar pousada no nosso coração. Temos de Lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos de Lhe pedir a graça de nunca mais Lhe fecharmos a porta das nossas almas [14].
Nas próximas semanas, a Liturgia, ao fazer ressoar a voz de Jesus, recomenda-nos vigilância: vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor [15]. É o que o Papa recorda a todos os cristãos: Jesus, que no Natal veio até nós e voltará glorioso no fim dos tempos, não se cansa de nos visitar continuamente nos acontecimentos de cada dia. Pede-nos que estejamos atentos para perceber a Sua presença, o Seu advento, e aconselha-nos que O esperemos vigiando (…). Preparemo-nos para receber com fé o mistério do nascimento do Redentor, que encheu de alegria o universo [16].
Na semana passada, tive oportunidade de passar uns dias em Pamplona, para acompanhar as vossas irmãs e os vossos irmãos depois das circunstâncias extraordinárias por que passaram. Pude mais uma vez testemunhar o espírito que o nosso Padre infundiu em todas e em todos, também nos que trabalham na Universidade de Navarra. Passadas poucas semanas do atentado sofrido, a atitude profundamente cristã das mulheres e dos homens que ali trabalham ajudou-me a dar graças a Deus: porque se toca com as mãos que o Opus Dei é uma sementeira de paz e de alegria.
Renovo a minha petição de orações pelas minhas intenções; em primeiro lugar pelo Papa e pelos seus colaboradores no governo da Igreja, pelos Bispos e sacerdotes, por todos os membros do Povo de Deus. E para que o trabalho apostólico pessoal – de cada uma, de cada um – não conheça tréguas. Com Cristo, ajudados pela Virgem Maria e S. José, façamo‑nos tudo para todos.
Neste mês há muitos aniversários da Obra. Não me posso deter a comentá-los, porque seria interminável. Peço-vos, isso sim, que amemos mais esta história das misericórdias de Deus, porque o Senhor as quis para cada uma, para cada um. Desejo que não fiquem em simples recordações, mas que as vivamos.
Com todo o afecto, abençoa-vos
O vosso Padre
+ Javier
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