quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

“Neste mistério há algo que deveria comover os cristãos”

Hoje brilhará sobre nós a luz, porque nos nasceu o Senhor! Eis a grande novidade que comove os cristãos e que, através deles, se dirige à Humanidade inteira. Deus está aqui! Esta verdade deve encher as nossas vidas. Cada Natal deve ser para nós um novo encontro especial com Deus, deixando que a sua luz e a sua graça entrem até ao fundo da nossa alma.
Detemo-nos diante do Menino, de Maria e de José; estamos contemplando o Filho de Deus revestido da nossa carne... Vem-me à lembrança a viagem que fiz a Loreto, em 15 de Agosto de 1951, para visitar a Santa Casa por motivo muito íntimo. Celebrei lá a Santa Missa. Queria dizê-la com recolhimento mas não tinha contado com o fervor da multidão. Não tinha calculado que nesse grande dia de festa muitas pessoas dos arredores viriam a Loreto – com a bendita fé dessa terra e com o amor que têm à Madona. E a sua piedade, considerando as coisas – como diria? – só do ponto de vista das leis rituais da Igreja, levava-as a manifestações não muito correctas. E assim, enquanto eu beijava o altar, nos momentos prescritos pelas rubricas da Missa, três ou quatro camponeses beijavam-no ao mesmo tempo. Distraía-me mas estava emocionado. E também me atraía a atenção a lembrança de que naquela Santa Casa – que a tradição assegura ser o lugar onde viveram Jesus, Maria e José – na mesa do altar tinham gravado estas palavras: Hic Verbum caro factum est. Aqui, numa casa construída pelas mãos dos homens, num pedaço de terra em que vivemos, habitou Deus!

O Filho de Deus fez-se carne e é perfectus Deus, perfectus homo [2], perfeito Deus e perfeito homem! Neste mistério há qualquer coisa que deveria emocionar os cristãos. Estava e estou comovido; gostava de voltar a Loreto... Vou lá em desejo para reviver os anos da infância de Jesus, repetindo e considerando: Hic Verbum caro factum est!Jesus Christus, Deus Homo, Jesus Cristo, Deus-Homem! Eis uma magnalia Dei [3], uma das maravilhas de Deus em que temos de meditar e que temos de agradecer a este Senhor que veio trazer a paz na terra aos homens de boa vontade [4], a todos os homens que querem unir a sua vontade à Vontade boa de Deus. Não só aos ricos, nem só aos pobres! A todos os homens, a todos os irmãos! Pois irmãos somos todos em Jesus; filhos de Deus, irmãos de Cristo. Sua Mãe é nossa Mãe.Na terra há apenas uma raça: a raça dos filhos de Deus. Todos devemos falar a mesma língua: a que o nosso Pai que está nos Céus nos ensina; a língua dos diálogos de Jesus com seu Pai; a língua que se fala com o coração e com a cabeça; a que estais a usar agora na vossa oração. É a língua das almas contemplativas, dos homens espirituais por se terem dado conta da sua filiação divina; uma língua que se manifesta em mil moções da vontade, em luzes vivas do entendimento, em afectos do coração, em decisões de rectidão de vida, de bem-fazer, de alegria, de paz.É preciso ver o Menino, nosso Amor, no seu berço. Olhar para Ele, sabendo que estamos perante um mistério. Precisamos de aceitar o mistério pela fé, aprofundar o seu conteúdo. Para isso necessitamos das disposições humildes da alma cristã: não pretender reduzir a grandeza de Deus aos nossos pobres conceitos, às nossas explicações humanas, mas compreender que esse mistério, na sua obscuridade, é uma luz que guia a vida dos homens.Vemos – diz S. João Crisóstomo – que Jesus saiu de nós, da nossa substância humana, e que nasceu de Mãe virgem; mas não entendemos como pode ter-se realizado esse prodígio. Não nos cansemos, tentando descobri-lo; aceitemos antes com humildade o que Deus nos revelou sem esquadrinharmos com curiosidade o que Deus nos escondeu [5]. Assim, com este acatamento, saberemos compreender e amar; e o mistério será para nós um esplêndido ensinamento, mais convincente do que qualquer outro raciocínio humano.
Texto extraído da homilia “O triunfo de Cristo na humildade” pronunciada em 24–XII–1963 por S. Josemaria Escrivá de Balaguer publicada em “Cristo que passa”.
Do site do Opus Dei

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O autor do Blogue Sulco deseja a todos os amigos e leitores um Santo Natal.
Que o menino Jesus que hoje nace nos traga esperança e paz.
A esperança e a paz que só Ele nos pode dar.

Santo Natal

domingo, 21 de dezembro de 2008

Não me afasto da mais rigorosa verdade se vos digo que Jesus continua agora a buscar pousada no nosso coração. Temos de Lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos de Lhe pedir a graça de nunca mais Lhe fechar a porta das nossas almas.O Senhor não nos oculta que a obediência rendida à vontade de Deus exige renúncia e entrega porque o amor não pede direitos: quer servir. Ele percorreu primeiro o caminho. Jesus, como obedecestes Tu? Usque ad mortem, mortem autem crucis, até à morte e morte de Cruz. É preciso sair de nós mesmos, complicar a vida, perdê-la por amor de Deus e das almas... Tu querias viver e que nada te acontecesse; mas Deus quis outra coisa... Existem duas vontades: a tua vontade deve ser corrigida para se identificar com a vontade de Deus, e não torcida a de Deus para se acomodar à tua.Com alegria, tenho visto muitas almas que jogaram a vida – como Tu, Senhor, "usque ad mortem"! – para cumprir o que a vontade de Deus lhes pedia, dedicando os seus esforços e o seu trabalho profissional ao serviço da Igreja, pelo bem de todos os homens.Aprendamos a obedecer, aprendamos a servir. Não há maior fidalguia do que entregar-se voluntariamente ao serviço dos outros. Quando sentimos o orgulho que referve dentro de nós, a soberba que nos leva a pensar que somos super-homens, é o momento de dizer que não, de dizer que o nosso único triunfo há-de ser o da humildade. Assim nos identificaremos com Cristo na Cruz, não aborrecidos ou inquietos, nem com mau humor, mas alegres, porque essa alegria, o esquecimento de nós mesmos, é a melhor prova de amor.
(Cristo que passa, 19)

Santos desta semana

22 de Dezembro
Santa Francisca Xavier Cabríni [Fundadora]
Beato Graciano [Religioso]
23 de Dezembro
São João de Kety [Sacerdote]
Santas Vitória e Anatólia [Mártires]
São Sérvulo
Santa Maria Margarida Dufrost de Lajemmerais [Fundadora]
24 de Dezembro
Vigília do Natal
São Charbel Makhlouf [Monge]
São Delfim [Bispo]
25 de Dezembro
Natal do Senhor
Santos Natais e Manuéis
Santa Anastácia [Mártir]
Santo Alberto Chmielowski [Fundador]
Beata Maria dos Apóstolos von Wullenweber [Fundadora]
Beatas Inês Fila, Lúcia Khambang e Companheiras [Mártires]
26 de Dezembro
Santo Estêvão [Protomártir]
27 de Dezembro
São João [Apóstolo e Evangelista]
Santa Fabíola
Santos Teodoro e Teófanes
28 de Dezembro
São Tomás Becket [Arcebispo]
São Gerardo de Saint-Wandrille [Abade assassinado em 1029]

domingo, 14 de dezembro de 2008

Santos desta semana

15 de Dezembro
Santa Maria Crucificada de Rosa
São Mesmin [Abade]
Santa Nina ou Cristina
Beato João Henrique Carlos Steeb [Fundador]
Beata Virgínia Centurione Bracelli [Fundadora]
16 de Dezembro
Santa Adelaide ou Alice [Imperatriz]
Beata Maria dos Anjos [Religiosa]
Beato Honorato de Biala Podlaska [Sacerdote]
Beato Clemente Marchisio [Fundador]
17 de Novembro
Santa Olímpia
Os Mártires de Gaza
Beato José Manyanet [Fundador]
18 de Dezembro
Expectação de Nossa Senhora
São Gaciano [Bispo]
São Flávio
19 de Dezembro
Santa Sametana [Religiosa]
Beato Urbano V [Papa]
20 de Dezembro
São Teófilo de Alexandria e Companheiros [Confessores]
São Domingos de Silos [Abade]
21 de Dezembro
Santos Mártires Vietnamitas
Beato Pedro Friedhofen [Fundador]
São Pedro Canísio [Doutor da Igreja]
Beatos Pedro Thi e André Dung ou Lac

Viver o Advento em família

Para Carlota e Hervé, o Advento é, não só um tempo para preparar o Natal, mas também ocasião de falar de Cristo aos filhos, amigos e colegas de trabalho.

Os cristãos vivem actualmente o tempo do Advento.
Pode-nos dizer como o vivem, concretamente na vossa família?
É uma ocasião para nós de cuidarmos melhor da oração em família – as orações da liturgia são tão belas durante o Advento, que é bastante fácil; os cânticos do Advento e de Natal também nos ajudam muito. Mandamos sempre as Boas Festas com uma imagem do Natal. Para os seus colaboradores profissionais (cuja maioria não é cristã) o Hervé, meu marido, fá-lo também de uma forma sistemática, rezando por cada um deles, escolhendo reproduções tão belas e eloquentes quanto possível. Resultado, muitas vezes encontra o cartão enviado na parede de um escritório porque é belo e diferente dos outros.

São do Opus Dei há mais de 20 anos. A vossa vocação altera a forma de viver este tempo do Advento?

Sim, porque São Josemaria ensinou-nos a entrar no Evangelho como um personagem mais. Gostamos muito de entrar em casa de Maria e José, procurar viver a esperança com a Santíssima Virgem, a fidelidade e o abandono com São José, a admiração com Santa Isabel. Isto não é teoria porque isso ajuda-nos a renovar o nosso amor, o nosso desejo de amar com actos, de partilhar com os filhos e com os nossos amigos a nossa esperança: «vale a pena esforçarmo-nos um pouco» porque Jesus nos vem salvar. E depois quando saímos de junto da Sagrada Família e ouvimos São João Baptista, percebemos também o apelo à conversão: cada dia um pequeno propósito para fazer melhor do que antes e avançar como os Magos, para o presépio; um propósito para sair de nós mesmos e servir. É também um bom momento para fazer «o apostolado dos sacramentos», sobretudo neste ano Paulino e sobretudo da confissão, com os filhos ou com os nossos amigos.

Os vossos filhos têm iniciativas ligadas a este tempo particular?

O ambiente familiar passa a ter uma nova dimensão?São Josemaria dizia que se não encontrássemos o Senhor na nossa vida corrente, não O encontraríamos nunca. Metem-se pelos olhos dentro os pormenores materiais do Presépio e da árvore de Natal; mas procuramos sempre ter em conta a dimensão sobrenatural, para nos ajudar a não esquecer a presença de Deus que vem, para nos ajudar a rezar (torna-se muito mais simples diante de um bonito presépio que apela ao silêncio e ao recolhimento), para nos lembrar que nos estamos a preparar para acolher o Salvador lutando concretamente contra o que nos separa d’Ele. Inclusivamente a preparação dos presentes pode ter esta dimensão; este ano vamos receber os nossos irmãos, irmãs, sobrinhos e sobrinhas, cerca de cinquenta pessoas; que fazer para os receber bem? Para que se sintam bem em nossa casa e possam viver em paz este tempo abençoado? Para lhes agradar? Para que aqueles para quem o Natal perdeu o sentido, compreendam que nos anima uma alegria e uma esperança profundas? Os nossos filhos mais velhos pretendem ir ajudar a servir a ceia de consoada no hospital e acompanhar idosos à Missa; um deles vai trabalhar para uma associação que promove a ajuda a crianças hospitalizadas. Nós sugerimos-lhes que dêem alguma coisa em concreto (dinheiro, um objecto de que gostem…), para os cristãos perseguidos, para um pobre, para uma criança. Propomos-lhes sempre várias possibilidades para lhes abrir horizontes. Assim, este ano vão fazer pequenos arranjos para ganhar algum dinheiro para depois o enviarem para um internato no Benin onde se encontram 24 órfãos entre 48 internados!"

Do site do Opus Dei

domingo, 7 de dezembro de 2008

Santos desta semana

08 de Dezembro
A Imaculada Conceição
Santas Elfrida ou Fride, Edite e Sabina
Beata Narcisa de Jesus Martilho Morán
09 de Dezembro
Santa Leocádia [Mártir]
Beata Clara Isabel [Religiosa]
Beato Bernardo Maria de Jesus [Sacerdote]
Beato Libório Wagner [Mártir]
10 de Dezembro
Trasladação da Santa Casa do Loreto
Santa Eulália de Mérida [Mártir]
São Melquíades [Papa]
11 de Dezembro
São Dâmaso [Papa]
São Daniel, estilita
Beatos Martinho de São Nicolau e Melchior de Santo Agostinho [Mártires]
12 de Dezembro
Nossa Senhora da Guadalupe [Padroeira da América Latina]
Santa Joana Francisca de Chantal [Fundadora]
Beato Tiago de Viterbo [Religioso]
São Corentino [Bispo]
13 de Dezembro
Santa Luzia [Mártir]
Santa Odília (ou Otília)
14 de Dezembro
São João da Cruz [Doutor da Igreja]
São Venâncio Fortunato [Bispo]
Beata Maria Francisca Schervier [Fundadora]

sábado, 6 de dezembro de 2008

Carta do Prelado [Dezembro 2008]

Queridíssimos: que Jesus me guarde as minhas filhas e os meus filhos!
Terminou o ano mariano na Obra, no qual quisemos agradecer a Deus, pela interces­são da Santíssima Virgem, os vinte e cinco anos do Opus Dei como Prelatura pessoal. Espero que, pela bondade do Senhor, todos tenhamos progredido no afecto e devoção à nossa Mãe, que leva necessariamente a tratar o seu Filho Jesus de um modo mais íntimo e pessoal, mais apaixonado.
Preparamo-nos agora para a solenidade da Imaculada Conceição: uma nova oportuni­dade para consolidar ainda mais, no fundo da nossa alma, a piedade mariana que é caracte­rística dos católicos e parte muito importante da herança espiritual do nosso Funda­dor. Sabemos como S. Josemaria não se punha nunca como exemplo de nada: o único Modelo é Jesus Cristo, repetia. E, contudo, não tinha inconveniente em afirmar: se nalguma coisa quero que me imiteis é no amor que tenho à Virgem Maria. Tão grande era o seu carinho filial pela nossa Mãe! Peçamos por sua intercessão que, nestes dias de preparação para a grande festa de 8 de Dezembro, se opere em cada um de nós um crescimento contínuo na piedade mariana e na vibração apostólica. Animemos também outras pessoas a entrarem pelos caminhos da vida interior ou a progredirem nessa direcção, através de um diálogo mais confiado com Nossa Senhora.
Ontem começou o Advento, um tempo litúrgico especialmente adequado a fomentar a esperança teologal. Esta virtude leva-nos a aspirar, com todas as nossas forças, à felicidade eterna que o Senhor prometeu aos que cumprem a Sua vontade. Como o Santo Padre escreveu há justamente um ano, nós precisamos de ter aquelas esperanças – maiores ou menores – que dia a dia nos mantenham a caminho. Mas sem a grande esperança, que há-de superar tudo o resto, aquelas não chegam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e que nos pode propor e dar aquilo que nós sozinhos não podemos alcançar [1].
Comecemos assim este tempo litúrgico reafirmando os nossos desejos de chegar ao Céu. Não ponhamos o nosso fim nas coisas de cá de baixo: que todas as realizações que possamos conseguir nos ajudem a percorrer o caminho que conduz ao Céu. Um só é o fim último da vida: a posse e o júbilo de Deus por toda a eternidade. Aí se encontra a meta definitiva a que havemos de aspirar dia a dia. E, para isso, havemos de pôr tudo – absolutamente tudo, sem ficarmos com nada – ao serviço do Reino de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica resume o sentido destas semanas com as palavras seguintes: «Ao celebrar cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja actualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da Sua segunda vinda» [2]. Tempo de preparação para o Natal e para fomentar a esperança da vinda do Nosso Redentor, que terá lugar no fim dos tempos, para julgar os vivos e os mortos e instaurar plenamente o Seu reino, de modo a que Deus seja tudo em todas as coisas [3].
A primeira fase do Advento – até 16 de Dezembro – centra-se na consideração da última vinda do Senhor. A Liturgia da Missa, sobretudo aos Domingos, apresenta-nos passagens do Antigo e do Novo Testamento destinadas a preparar-nos para esse encontro. A partir de 17 de Dezembro, muda o conteúdo das leituras, que nos dispõem de modo imediato para a vinda espiritual de Jesus Cristo no Natal: dois aspectos intimamente unidos, que podem muito bem guiar a nossa oração durante o mês de Dezembro. Como é a nossa fome de estar com Deus já aqui na Terra? Procuramos o Seu rosto, quando isso acontece? Evitamos que haja em nós qualquer perda de paz, com a certeza de que Ele veio e virá para todos?
A consideração dos novíssimos – as coisas últimas, que hão­‑de acontecer no final dos tempos e, antes, para cada um, no dia da sua morte – não se há-de tornar uma fonte de temor ou de inquietação. Nada mais longe da intenção da Igreja ao apresentar-nos estas verdades. Elas constituem antes um chamamento ao sentido da responsa­bili­dade pessoal, para que nos decidamos a trabalhar com maior constância na obra da santificação pessoal e na tarefa apostólica.
Há poucas semanas, referindo a doutrina de S. Paulo sobre os Novíssimos, Bento XVI convidava os cristãos a meditar em três grandes certezas da nossa fé relacionadas com este tema. A primeira é a certeza de que Jesus ressuscitou, está com o Pai e, por isso, está connosco para sempre. E ninguém é mais forte que Cristo (…). Por isso estamos seguros e não temos medo [4].
Como havíamos de ter medo do nosso Pai Deus, que mostrou de tantas e evidentes formas o Seu amor por nós, até ao ponto de enviar o Seu Filho ao mundo para o salvar? A fé em Cristo ressuscitado é o melhor antídoto contra todos os medos. Assim aconteceu no início da pregação evangélica, num mundo dominado pelo medo fatalista do destino, e assim se deve renovar aquela fé também hoje, num mundo em que tantas pessoas andam cheias de apreensão pelo futuro, ou vivem de forma irresponsável, como se tudo acabasse aqui em baixo. O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? (Sl 26, 1), perguntava-se S. Josemaria com palavras do Salmo.E respondia: A ninguém. Tratando assim o nosso Pai do Céu, não admitamos medo de ninguém nem de nada [5]. Por isso acrescentava: um filho de Deus não tem medo da vida nem medo da morte, porque o fundamento da sua vida espiritual é o sentido da filiação divina: Deus é meu Pai, pensa, e é o Autor de todo o bem, é toda a Bondade [6].
Em segundo lugar– prossegue o Papa, aprofundando sobre as raízes do optimismo cristão –, a certeza de que Cristo está comigo, de que em Cristo o mundo futuro já começou, também dá certeza da esperança. O futuro não é uma escuridão em que ninguém se orienta. Não é assim [7]. Para quem acredita em Cristo e vive de Cristo, o futuro emerge sempre luminoso, um caminho seguro, porque Jesus Cristo ressuscitado, o Bom Pastor, nos abriu a senda da vida eterna e caminha connosco, nos protege e nos anima com o carinho de uma mãe e de um pai. Cada um pode fazer suas, com plena verdade, as palavras inspiradas: o Senhor é meu pastor, nada me falta. Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes. Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu Nome. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me sossegam[8].
A terceira certeza que sustenta os cristãos é esta:o Juiz que volta – Juiz e Salvador ao mesmo tempo – confiou-nos a tarefa de viver neste mundo conforme o Seu modo de viver. Entregou-nos os Seus talentos. Por isso, a nossa atitude é : responsabilidade para com o mundo, para com os irmãos, diante de Cristo e, ao mesmo tempo, também a certeza da Sua misericórdia. As duas coisas são importantes [9].
Este sentido de responsabilidade responde à advertência do Senhor: negotiamini dum venio [10], negociai até Eu voltar. Palavras que S. Josemaria meditou frequentemente, com a certeza de que Deus nos acompanha sempre, e com a responsabilidade de que nos confiou a Sua herança. É preciso aproveitar bem o tempo para que, com a graça divina, mereçamos chegar um dia à bem-aventurança eterna. Saboreemos aquelas outras palavras do nosso Padre: Que pena viver tendo como ocupação matar o tempo, que é um tesouro de Deus! Não há desculpas para justificar essa actuação (…). Que tristeza não tirar partido, autêntico rendimento de todas as faculdades, poucas ou muitas, que Deus concede ao homem para que se dedique a servir as almas e a sociedade!
Quando o cristão mata o seu tempo na Terra, põe-se em perigo de matar o seu Céu, se, por egoísmo, se acanha, se esconde, se despreocupa. Quem ama a Deus, não entrega só o que tem, o que é, ao serviço de Cristo: dá-se ele próprio [11].
À luz destes convites, podemos perguntar-nos: sinto a responsabilidade de fazer render os talentos – qualidades pessoais, tarefas que me ocupam, oportunidades de fazer o bem que me aparecem em cada dia – para estabelecer o Reino de Cristo na minha alma e no ambiente em que vivo? Como ajudo os outros a comportar-se deste modo, com o meu exemplo e com a minha palavra? Faço tudo o que está ao meu alcance para que se respeite a lei de Deus na legislação civil e na organização da sociedade?
A segunda fase do Advento, como vos recordava no início, tende a preparar-nos de modo imediato para o Natal. Nessa altura, seguindo um conselho do nosso Padre, podemos acompanhar Nossa Senhora e S. José no caminho até Belém. Nos tempos de oração pessoal e ao longo do dia, situemo-nos muito perto deles, prestando-lhes com o desejo algum serviço, reparando pelos que naquela altura, e também agora, não souberam acolher o Filho de Deus quando veio à Terra. Não é pura imaginação, mas um modo de exercitar de forma concreta a nossa fé no mistério da Encarnação.
O Natal aparece-nos como uma escola extraordinária. Aproveitemos as lições que Jesus nos dá. Como o nosso Padre lembrava, detenhamo-nos na naturalidade do Seu nascimento. Começa por estar nove meses no seio de Sua Mãe, como qualquer outro homem, com extrema naturalidade. Sabia o Senhor de sobra que a humanidade padecia de uma urgente necessidade d’Ele. Tinha, portanto, fome de vir à Terra para salvar todas as almas, mas não precipita o tempo: vem na Sua hora, como chegam ao mundo os outros homens [12].
Também podemos considerar a Sua simplicidade. O Senhor vem sem aparato, desconhecido de todos. Na Terra, só Maria e José participam na divina aventura. Depois, os pastores, avisados pelos anjos. E mais tarde, os sábios do Oriente. Assim acontece o facto transcendente que une o Céu à Terra, Deus ao homem! [13]
Imitando o Mestre com determinação, podemos unir o divino e o humano na nossa existência comum. Basta que nos esforcemos por meter Deus no centro da nossa actividade, com a vontade de cumprir os nossos deveres para Lhe dar glória, e rectificando aqueles motivos que o possam dificultar. Nestes dias anteriores ao Natal, não esqueçamos que Maria e José continuam a bater à porta das nossas almas, como então às portas das casas de Belém. Não me afasto da mais rigorosa – assegurava S. Josemaria – verdade se vos digo que Jesus continua agora a buscar pousada no nosso coração. Temos de Lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos de Lhe pedir a graça de nunca mais Lhe fecharmos a porta das nossas almas [14].
Nas próximas semanas, a Liturgia, ao fazer ressoar a voz de Jesus, recomenda-nos vigilância: vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor [15]. É o que o Papa recorda a todos os cristãos: Jesus, que no Natal veio até nós e voltará glorioso no fim dos tempos, não se cansa de nos visitar continuamente nos acontecimentos de cada dia. Pede-nos que estejamos atentos para perceber a Sua presença, o Seu advento, e aconselha-nos que O esperemos vigiando (…). Preparemo-nos para receber com fé o mistério do nascimento do Redentor, que encheu de alegria o universo [16].
Na semana passada, tive oportunidade de passar uns dias em Pamplona, para acompanhar as vossas irmãs e os vossos irmãos depois das circunstâncias extraordinárias por que passaram. Pude mais uma vez testemunhar o espírito que o nosso Padre infundiu em todas e em todos, também nos que trabalham na Universidade de Navarra. Passadas poucas semanas do atentado sofrido, a atitude profundamente cristã das mulheres e dos homens que ali trabalham ajudou-me a dar graças a Deus: porque se toca com as mãos que o Opus Dei é uma sementeira de paz e de alegria.
Renovo a minha petição de orações pelas minhas intenções; em primeiro lugar pelo Papa e pelos seus colaboradores no governo da Igreja, pelos Bispos e sacerdotes, por todos os membros do Povo de Deus. E para que o trabalho apostólico pessoal – de cada uma, de cada um – não conheça tréguas. Com Cristo, ajudados pela Virgem Maria e S. José, façamo­‑nos tudo para todos.
Neste mês há muitos aniversários da Obra. Não me posso deter a comentá-los, porque seria interminável. Peço-vos, isso sim, que amemos mais esta história das miseri­córdias de Deus, porque o Senhor as quis para cada uma, para cada um. Desejo que não fiquem em simples recordações, mas que as vivamos.
Com todo o afecto, abençoa-vos
O vosso Padre
+ Javier