sábado, 7 de março de 2009

Carta do Prelado (Março 2009)

Queridíssimos: que Jesus me guarde as minhas filhas e os meus filhos!
Começámos a Quaresma e é necessário que percorramos este tempo com verdadeira ânsia de conversão. A Igreja recomenda que cuidemos de modo especial a oração, o espírito de penitência e as obras de caridade, como preparação para a Páscoa, com a determinação de que não seja apenas mais uma Quaresma. Por isso, procuremos viver profundamente estas semanas, correspondendo às abundantes graças do Espírito Santo com exigência pessoal.
O Santo Padre, como sabeis, interrompe nesta altura as suas actividades habituais, durante uns dias, com o seu retiro espiritual, para se dedicar mais à oração. Este costume da Cúria romana ajuda-nos a intensificar a nossa oração pelo Papa que, além disso, celebra a 19 de Março o seu onomástico. E vamos acompanhá-lo também espiritualmente na sua viagem aos Camarões e a Angola, de 17 a 23 deste mês. Responderemos assim à expressa petição que fez aos católicos há dias, por ocasião da festa da Cátedra de S. Pedro. Esta festa, dizia, oferece-me a ocasião para vos pedir que me acompanheis com as vossas orações, a fim de que eu possa realizar fielmente a nobre tarefa que a Providência divina me confiou como Sucessor do Apóstolo Pedro. Por isso invocamos a Virgem Maria, que ontem aqui em Roma, celebrámos com o formoso título de Nossa Senhora da Confiança. Pedimos-lhe também que nos ajude a entrar com as devidas disposições de ânimo no tempo da Quaresma (…). Maria nos abra o coração à conversão e à escuta dócil da Palavra de Deus [1].
Comoveu-me esta petição do Pai comum a todos os seus filhos e filhas, continuação da que já nos tinha sugerido nos dias da sua eleição à cátedra de S. Pedro, há quase quatro anos. A solenidade de S. José, Patrono da Igreja universal [2], oferece-nos mais uma razão para rezarmos pela Igreja e pelo Papa. Efectivamente, como João Paulo II dizia há uns anos, «os Padres da Igreja, inspirando-se no Evangelho, frisaram que S. José, tal como cuidou amorosamente de Maria e se dedicou com alegre empenho à educação de Jesus Cristo, (cfr. Santo Ireneu, Adversus haereses, IV, 23, 1), também guarda e protege o Seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santa é figura e modelo» [3].
Recordemos a promessa do Senhor: Digo-vos ainda que se dois de entre vós se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no Céu [4]. Permaneçamos portanto bem unidos na petição, cerrando fileiras como um poderoso exército, disposto em ordem de batalha [5], uma batalha de paz e de alegria.
Comentando aquelas palavras do Evangelho, que acima transcrevo, Bento XVI explica que o verbo que o evangelista usa para dizer “se unirem” (…) contém a referência a uma “sinfonia” de corações. É isto que atrai o coração de Deus. Por conseguinte, a sintonia na oração manifesta-se importante para que a acolha o Pai celeste [6]. Continuemos muito unidos ao Papa e às suas intenções, pois desse modo estaremos muito unidos a Cristo e, com Ele, pelo Espírito Santo, a nossa prece chegará eficazmente a Deus Pai.
A união com a Cabeça visível do Corpo místico é essencial na Igreja. É bem significativo lermos, nos Actos dos Apóstolos, que quando o rei Herodes encarcerou S. Pedro, com a intenção de o matar, a Igreja rogava incessantemente por ele a Deus [7]. O resultado foi a libertação do Apóstolo pelo ministério de um anjo.
Também S. Paulo nos oferece um maravilhoso exemplo de união com a cabeça. Vem muito a propósito recordá-lo neste ano paulino, como o Santo Padre comentava na solenidade litúrgica dos dois Santos Apóstolos. Referindo-se a uma imagem típica da iconografia cristã que os representa a dar um abraço, quis salientar que nos escritos do Novo Testamento podemos, por assim dizer, seguir o desenvolvimento do seu abraço, a realização da unidade no testemunho e na missão. Tudo começa quando Paulo, três anos depois da sua conversão, vai a Jerusalém “para conhecer Cefas” (Gl 1, 18). E volta a Jerusalém, 14 anos depois, para expor “às pessoas mais notáveis” o Evangelho que ele anuncia (…). No final deste encontro, Tiago, Cefas e João estenderam a mão, confirmando deste modo a comunhão que os congrega no único Evangelho de Jesus Cristo (cfr. Gl 2, 9).
Encontro um bonito sinal deste abraço interior em crescimento, que se desenvolve, apesar da diversidade dos temperamentos e das funções, no facto de que os colaboradores mencionados no final da Primeira Carta de São Pedro, Silvano e Marcos, são colaboradores igualmente estreitos de São Paulo. Na união dos colaboradores torna-se visível de modo muito concreto a comunhão da única Igreja, o abraço dos grandes Apóstolos [8].
Os dois Apóstolos ofereceram em Roma o supremo testemunho de Cristo, com o seu martírio. O desejo de S. Paulo de ir a Roma sublinha como vimos entre as caracterís­ticas da Igreja sobretudo a palavra catholica. O caminho de são Pedro para Roma, como representante dos povos do mundo, insere-se sobretudo sob a palavra una: a sua tarefa consiste em criar a unidade da catholica, da Igreja formada por judeus e pagãos, da Igreja de todos os povos.
E esta é a missão permanente de S. Pedro: fazer com que a Igreja nunca se identifique com uma só nação, com uma única cultura nem com um só Estado. Que seja sempre a Igreja de todos. Que reuna a humanidade para além de todas as fronteiras e, no meio das divisões deste mundo, torne presente a paz de Deus e a força reconciliadora do seu amor [9].
Nos últimos anos da sua vida terrena, S. Josemaria insistia em que era tempo de rezar e de reparar. E tempo de dar graças, porque a ajuda de Deus não falta. Assim temos que continuar a fazer: cheios de optimismo e de confiança porque, como o nosso Padre graficamente assegurava, non est abbreviata manus Domini, a mão de Deus não diminuiu (Is 59, 1). Deus não é menos poderoso hoje do que noutras épocas, nem é menos verdadeiro o Seu amor pelos homens [10]. Nós, os cristãos, devemos colaborar com a nossa oração e a nossa expiação, com o nosso trabalho realizado com perfeição humana, em união com o Sacrifício do Altar.Se convivemos com o Senhor na oração, caminharemos com o olhar limpo, que nos permita distinguir a acção do Espírito Santo, também nos acontecimentos que às vezes não entendemos ou que nos causam pranto ou dor [11].
Que belo dia é o 19 de Março para que nós, os cristãos, reafirmemos o nossa vontade de caminhar muito perto de Jesus Cristo, de renovar a nossa entrega ao Senhor, de estarmos pendentes d’Ele, como S. José, que gastou os seus anos junto de Jesus, em Nazaré! A meditação de outros conselhos de S. Josemaria, neste contexto de oração pela Igreja e pelo Romano Pontífice, há-de ajudar-nos a celebrar melhor esta grande festa.
Em 1964, o nosso Padre pregava assim: Para defender a Igreja, para fazer bem às almas, para corredimir com Cristo, para sermos bons filhos do Papa, não tenho outra receita senão esta: santidade. Dir-me-eis que é difícil. Sim, mas também é fácil, é acessível. Todos nós, as almas redimidas por Jesus Cristo, temos, com a receita, o remédio: basta querermos [12].
Depois do mês de Março começa em breve a Semana Santa: a comemoração litúrgica do triunfo de Nosso Senhor sobre a morte, o demónio e o pecado. Não percamos nunca de vista esta realidade, sobretudo quando nos afectarem mais de perto as dificuldades externas ou interiores, que Deus às vezes permite. Porque Cristo vive. Esta é a grande verdade que enche de conteúdo a nossa fé. Jesus, que morreu na cruz, ressuscitou, triunfou da morte, do poder das trevas, da dor e da angústia (…).
Cristo vive. Não é Cristo uma figura que passou, que existiu num tempo e que se retirou, deixando-nos uma lembrança e um exemplo maravilhosos.
Não. Cristo vive. Jesus é o Emanuel: Deus connosco. A sua Ressurreição revela­‑nos que Deus não abandona os seus. Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do filho de suas entranhas? Pois ainda que ela se esquecesse, eu não me esquecerei de ti (Is 49, 14-15), tinha Ele prometido. E cumpriu a sua promessa. Deus continua a achar as suas delícias entre os filhos dos homens (cfr. Pr 8, 31) [13].
Recorramos sempre à intercessão de S. Josemaria, também no dia 28, aniversário da sua ordenação sacerdotal. Peçamos-lhe que nos faça participar do seu optimismo sobre­natural, do seu amor ao mundo, para sabermos levar por todo o lado, com a segurança dos filhos de Deus, esta formosíssima batalha de amor e de paza que o Senhor nos convocou. Recordemos que o nosso Padre, que teve de sofrer não poucas contradições pelo seu amor incondicionado ao Senhor e à Sua Igreja santa, repetia que a alegria incomparável da filiação divina o confirmava, dia após dia, na ideia clara e firme de que Cristo é o vencedor, e de que a mensagem cristã há-de abrir passagem em todos os homens de boa vontade: enchamo-nos de confiança, quia Deus nobiscum est!, porque Deus está connosco [14]. E contamos coma intercessão do queridíssimo D. Álvaro, que se nos foi para o Céu, com a sua paz característica, a 23 de Março de 1994.
Regressei ontem de uma rápida viagem a Budapeste. Lá, como em tantos outros lugares, o espírito da Obra vai abrindo caminho, levando consigo o amor à Igreja, ao Romano Pontífice e a todas as almas, que lhe é próprio. Demos muitas graças a Deus! E esta noite vou começar o meu retiro: ajudai-me, como eu procuro em cada dia ajudar a todos vós.
Com todo o afecto, abençoa-vos
O vosso Padre
+ Javier
Roma, 1 de Março de 2009

Do site do Opus Dei

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